Saturday, December 30, 2006, posted by MetalRorschach at 8:01 PM
Qualquer fã de Heavy Metal minimamente interessado na história do estilo tem algum conhecimento sobre a New Wave of British Heavy Metal – ou NWOBHM, movimento ocorrido no Reino Unido durante a primeira metade dos anos 80 e que trouxe ao mundo bandas como Saxon, Angel Witch, Def Leppard e o seminal Iron Maiden. No seio desta verdadeira febre musical surgiram as sementes que, tempos depois, dariam frutos como o Thrash, o Doom e o Death/Black Metal – fato que, por si só, inscreve o período em questão entre os mais importantes, senão o mais importante da história do Metal. O que poucos sabem é que, entre as muitas sub-cenas que se desenvolveram durante aqueles anos, uma muito curiosa tomou corpo na região do País de Gales. Sua principal característica é ter dado origem a um número considerável de bandas que usavam o idioma local, o Galês, para cantarem suas músicas, em oposição ao inglês privilegiado no restante do território britânico. Embora não tenham de modo algum igualado o (razoável) sucesso de outras bandas galesas como o Persian Risk e o Traitors Gate, que preferiam usar o inglês, o fato é que esses conjuntos, com seu apego às tradições locais, construíram uma história fascinante, embora até agora não documentada de modo adequado.

Na verdade, o grande problema com que nos deparamos ao tentar (re) contar essa história é a escassez de fontes e, principalmente, a dificuldade de encontrar a grande maioria dos itens lançados por esses grupos – na verdade, como qualquer colecionador de raridades do período terá o maior prazer de confirmar, é simplesmente impossível dizer com segurança o que há para ser descoberto, com alguns itens sendo hoje conhecidos apenas na razão de um ou dois exemplares. Um grande pioneiro nessa pesquisa é Malc McMillan, autor do colossal "The NWOBHM Encyclopedia" e nome ao qual o artigo que se segue deve boa parte de suas informações. No entanto, como a citada obra foi publicada em 2001, um número considerável de descobertas foram feitas de lá para cá, de modo que uma tentativa de atualização não é de todo descabida.

Antes de seguirmos em frente, deixemos claro: a absoluta maioria desses trabalhos é dificílima de encontrar hoje em dia, e prepare-se para gastar muito tempo (e dinheiro) se pretender adicionar um original desses itens à sua coleção. Este mesmo que vos fala teve a oportunidade de ouvir muito pouco do material que é discutido nesse trabalho, e a maioria das referências à sonoridade das bandas é admitidamente de segunda ou terceira mão, o que sem dúvida causa imperfeições na descrição dos conjuntos. Na verdade, o grande interesse desse artigo é de cunho acadêmico: conceder um pedaço de história a grupos que, bem ou mal, fizeram parte da história do Heavy Metal, e dar alguma informação curiosa à todos que, como eu, são obcecados pelo passado deste tão apaixonante estilo musical e de vida.

Abaixo, vão listadas as bandas que são conhecidas dos apreciadores / colecionadores da NWOBHM, seguidas de uma descrição (a mais acurada possível) sobre sua carreira e discografia. De novo, a maioria desses itens é bastante rara, de modo que em breve novas descobertas ou correções podem surgir, mudando o que está escrito aqui. De qualquer modo, vamos lá:

CEFFYL PREN

Até o momento, são conhecidos dois 7" singles desta obscura formação sediada provavelmente na cidade de Glamorgan. O mais antigo (foto) data de 1984, e foi lançado pela minúscula Anthem Records. Apresentando "Collasant Eu Gwaed" e uma versão em galês de "Bedside Radio" do Krokus (aqui batizada "Roc Ar Y Radio"), o citado single divide opiniões entre os (poucos) que o possuem: há quem ame, assim como os que odeiam o mesmo com grande devoção. Recentemente, foi descoberto um segundo item de 1987, editado pela igualmente pequena Graffeg Records, que apresenta "Roc Roc Nadolig" (uma canção de Natal, aparentemente) e "Bangkok". Analisando a ficha técnica, descobre-se que o baterista Tim Lewis é o único músico a participar das duas formações da banda, o que não deixa de ser curioso. Nesse segundo single, o Ceffyl Pren executa um Hard/Heavy bastante acessível, mas de sonoridade agradável e com um uso interessante de teclados. Ambas as faixas são bem construídas e musicalmente interessantes, e aficionados pela NWOBHM certamente apreciarão o trabalho simples mas satisfatório do conjunto. Aparentemente, a banda acabou antes da virada da década, e nenhum material adicional do conjunto é conhecido até o momento. De qualquer modo, eles certamente eram a banda da região com o nome mais legal – Ceffyl Pren era um meio de humilhação pública de criminosos na antiga sociedade galesa: o bandido era forçado a sentar-se em um cavalo de madeira (o tal Ceffyl Pren) e era conduzido pelas redondezas, exposto ao escárnio e eventuais apedrejamentos da multidão. Interessante, sem dúvida.
MÚSICOS:
Gareth Morlais (V) - - - > Alun Wyn Davies (em "Roc Roc Nadolig")
Tosh Stuart (G) - - - > Huw John (em "Roc Roc Nadolig")
Wyn Lewis Jones (B) - - - > Marc Hammond (em "Roc Roc Nadolig")
Tim Lewis (D)
Jon Evvo (K) (em "Roc Roc Nadolig")
DISCOGRAFIA: Collasant Eu Gwaed (7", 1984), Roc Roc Nadolig (7", 1987).

CRYS

Talvez a mais "clássica" das bandas aqui citadas e provavelmente a que foi mais longe de todas elas, o Crys foi formado provavelmente no final dos anos 70 pelos irmãos Scott (b) e Liam Forde (v/g), e seu primeiro lançamento foi um 7" single em 1980, contendo "Lan Yn Y Gogledd" e "Cawd Symud" como lado B. O single foi lançado pelo minúsculo selo Click Records e tem uma capa na verdade bastante feia, mostrando os quatro músicos envolvidos ao lado de uma pichação com o nome da banda. Além dos Forde, gravaram o single os músicos Alun Morgan (g) e Nicky Samuel (d). Em termos de sonoridade, podemos aproximar o Crys de conjuntos como Black Rose e Fist - talvez não tão qualificado quanto os citados mas ainda assim um competente representante da NWOBHM. Aparentemente, a repercussão do single de estréia foi bastante boa em sua área natal, uma vez que a razoavelmente conceituada Sain Records (até hoje uma das mais atuantes gravadoras da região) se interessou pela banda e logo passou a distribuir os trabalhos do quarteto. Em 1981, chegava às lojas o primeiro Lp do Crys, "Rhyfelwr" (foto). Contendo dez faixas, alguns colecionadores o consideram uma pérola do período, embora a grande maioria dos mortais não tenha sido afortunada com a sorte de poder ouvir o material e tirar suas próprias conclusões. No ano seguinte, sairia o segundo "full lenght" do conjunto, chamado "Tymor Yr Heliwr", respondendo por um estilo bastante próximo ao do disco anterior – porém, a confiarmos em nossas fontes, sem alcançar o bom nível musical de seu antecessor. Ainda nesse ano, o Crys apareceria na coletânea "Gorau Sgrech – Sgrechian Corwen", ao lado de gente como os mods do Ail Symudiad, Tich Gwilym (músico que tocou com o Budgie) e o respeitado músico folk Meic Stevens. No início de 1983, o Crys faz sua grande tentativa de se fazer ouvir fora do País de Gales, e participa do famoso "Friday Rock Show" da BBC, programa que toda semana trazia um grupo emergente da cena britânica para tocar algumas músicas ao vivo. Até onde sabemos, foi o único grupo NWOBHM cantando em Galês a conseguir espaço no programa, e no dia 28 de janeiro de 1983 foram ao ar quatro músicas, incluindo as duas primeiras (e, até onde sabemos, únicas) gravações do Crys em inglês, "It’s About Time" and "Rockin’ Along". Os outros dois temas da noite foram "Pendoncwyr" e Merched Gwillt A Gwin", ambos tirados de seu segundo LP. Em 1984, apareceriam em uma outra compilação da Sain Records, "Barod Am Roc", e o fato do título do disco ser também o título da música cedida pelo Crys para o álbum é sinal evidente de que, ao menos na região de Gales, a banda vivia um momento muitíssimo promissor. No entanto, nem sempre as aparências correspondem à realidade, e o grupo sumiu do mapa na segunda metade da década de 80, enquanto seus discos e conquistas caíam no esquecimento. Durante anos, não se teve qualquer notícia do Crys, e qualquer um julgaria que a banda havia simplesmente sumido do mapa. Qual não é nossa surpresa ao encontrarmos "Roc Cafe", CD lançado pela Fflach Records em 1995 que mostra o Crys em grande forma, tocando de modo apaixonado e com várias músicas muito interessantes em seu repertório. A única mudança na formação é a entrada de Mark Thomas na guitarra, e apesar da apresentação visual bastante simples (pouco mais do que um selo na caixinha de acrílico com o nome da banda e do CD), uma simples audição do mesmo mostra uma banda coesa e altamente qualificada, proporcionando considerável satisfação aos entusiastas do período. De qualquer modo, seria uma ótima notícia se o Crys ainda estivesse de algum modo na ativa, mantendo vivo o legado do que já são 25 anos de história. Aguardamos ansiosamente por futuros desdobramentos.
MÚSICOS:
Liam Forde (V,G)
Alun Morgan (G) - - - > Mark Thomas (em "Roc Cafe")
Scott Forde (B)
Nicky Samuel (D)
DISCOGRAFIA: Lan Yn Y Gogledd (7", 1980), Rhyfelwr (LP, 1981), Tymor Yr Heliwr (LP, 1982), Gorau Sgrech – Sgrechian Corwen (compilação em LP, 1982), Barod Am Roc (compilação em LP, 1984), Roc Cafe (CD, 1995).

DORCAS

Até o momento, são conhecidas três faixas gravadas por essa quase esotérica formação de Gales. Duas delas ("Blwyddyn Arall" e "Nyth Y Frân") estão presentes em um single independente de 1984, item raríssimo que pouquíssimos colecionares podem se gabar de possuir. Aparentemente, a banda operava num estilo próximo ao hard/heavy setentista, com forte trabalho de guitarras numa linha Wishbone Ash de ser. Uma curiosidade sobre essa gravação é o fato de que cada uma das faixas foi gravada com um baixista diferente (um deles Deiniol Morris, também envolvido com o Maffia Mr. Huws), o que dá uma noção de como a formação da banda deveria ser instável na época. A terceira canção conhecida do Dorcas é "Does Dim Mwy O Win", que já há algum tempo circula entre os mais obcecados pela época como um arquivo mp3. Por muito tempo, a gravação foi creditada como parte de uma demo da banda, mas hoje se sabe que na verdade ela foi retirada de uma virtualmente desconhecida coletânea chamada "Cadw Reiat", lançada pela Sain Records em 1986. De qualquer modo, ninguém ainda se ergueu para dizer que tem um exemplar da compilação em questão, de modo que detalhes mais esclarecedores sobre o disco (e a ficha técnica da gravação) continuam, até esse momento, um mistério.
MÚSICOS:
Colin Roberts (V)
Rhys Evans (G)
Deiniol Morris (B)
John Hywel Morris(B)
Peter Roberts (D)
DISCOGRAFIA: Blwyddyn Arall (7’’, 1984), Cadw Reiat (compilação, 1986).

LOUIS A’R ROCYRS

A banda foi formada pelo músico Louis Thomas depois de seu desligamento do grupo folk / rock Bran. O primeiro lançamento desse projeto parece ter sido um single, lançado de modo independente em 1983 e contendo "Fodan" como principal chamariz. Infelizmente, por mais que me esforçasse não consegui descobrir qual seria o lado B, mas aparentemente o projeto ainda não era tão NWOBHM assim, pendendo um pouco mais para o punk rock. O outro lançamento conhecido do Louis A’r Rocyrs até o momento é um 7" single lançado pela Sain em 1984, contendo "Sianel 3" e "Y Sipsiwns" como lado B (foto). Os relatos indicam uma guinada na carreira de Louis a partir desse vinil, rumando para um som bem mais próximo do Hard Rock, de modo que faz sentido a inclusão do artista neste artigo sobre NWOBHM, uma vez que a época e sonoridade batem. De qualquer modo, parece ter sido um projeto de vida curta, e logo Louis Thomas voltaria para a razoável segurança que a música folk o proporcionava, restando esse escasso material como lembrança de seus dias "de Metal". Na verdade, o material parece tão esquecido atualmente que é um dos poucos que ainda pode ser comprado por um valor relativamente aceitável – se você for capaz de localizar um exemplar, claro.
MÚSICOS
Desconhecidos até o momento.
DISCOGRAFIA: Fodan (7", 1983), Sianel 3 (7'', 1984).

OMEGA

Pouco se sabe sobre esse conjunto, a não ser que de algum modo ele foi um dos poucos grupos aqui citados capazes de legar ao mundo um LP auto-intitulado (foto) antes de sumirem no esquecimento. Apresentando dois músicos envolvidos também com o Rohan (Graham Land e Bev Jones), o Omega participou da coletânea "Gorau Sgrech - Sgrechian Corwen" em 1982 (com a música "Nansi") antes de editar esse LP individual. Lançado pela Sain Records em 1983, o álbum em questão investe em um estilo próximo do rock progressivo, mas supostamente com um forte trabalho de guitarras tipicamente NWOBHM. Pouquíssimos tiveram a chance de ver um exemplar dessa obscuridade, que dirá ouvir a música nela contida, mas creio que o material qualifica-se dentro dos parâmetros básicos do movimento, merecendo ser citado por aqui. Do mesmo modo, não se sabe se há mais material do Omega dando sopa em algum lugar por aí, de maneira que teremos que aguardar algum tempo antes de podermos dar informações mais acuradas a respeito do conjunto.
MÚSICOS
Delwyn Sion
Graham Land
Len Jones
Gorwel Owen
Bev Jones
DISCOGRAFIA: Gorau Sgrech - Sgrechian Corwen (compilação em LP, 1982), Omega (LP, 1983).

RHIANNON TOMOS A’R BAND

Rhiannon Tomos é uma vocalista de timbre bastante semelhante ao de Doro Pesch (Warlock), que andou se metendo em algumas empreitadas metálicas na primeira metade dos anos 80. Temos indícios de material gravado pela cantora em 1979 ou até mais cedo, mas o primeiro registro de Rhiannon cuja existência pudemos comprovar é a raríssima coletânea "Yn Dawel Hyd Nawr" (foto abaixo), lançada pela desconhecida Legless Records em 1980. Aparentemente, trata-se de uma compilação realçando a participação feminina na cena musical galesa, e Rhiannon (ainda assinando sem o "A’r Band") participa com duas faixas, "India’r Prynhawn" e "Cinderella". Tudo indica que a participação da vocalista tenha agradado bastante, pois a Sain Records apressou-se em assinar com a moça, e em 1981 chegava às lojas o LP "Dwed Y Gwir". Com um estilo oscilando entre o Hard Rock setentista e o Heavy Metal, Rhiannon conseguiu alguma repercussão, mas não o suficiente para superar as estreitas fronteiras da cena local. Em 1982, duas faixas da banda ("Rosaline" e "Cer A Hi") aparecem na compilação "Gorau Sgrech - Sgrechian Corwen", e no ano seguinte a vocalista emprestou sua voz ao Y Diawled (ver nota abaixo), gravando com eles o ótimo 7" single "Noson Y Blaidd". A última aventura conhecida de Rhiannon no reino do Metal (para mim, pelo menos) é a participação da Rhiannon Tomos A’r Band na coletânea "Barod Am Roc", de 1984, na qual contribuem com "Chm Hiraeth", música gravada em 1980 e que pode (ou não) ter sido lançada anteriormente em um 7" single ou algo do tipo. De qualquer modo, a cantora parece ter desistido do Rock N Roll, e a partir da segunda metade dos anos 80 passou a investir na música folk, assumindo o nome artístico de Rhiannon Thomas e lançando alguns trabalhos esporádicos desde então. Seja como for, surpresa: em 2004, o Rhiannon Tomos A’r Band reúne-se especialmente para participar do Faenol Festival, organizado por Bryn Terfel, compositor clássico que é nome emblemático para a cena musical do País de Gales. Se isso significa ou não o retorno definitivo de Rhiannon ao Hard / Heavy, só o tempo dirá. Aguardamos atentamente por novidades, quanto mais brevemente melhor.



MÚSICOS:
Rhiannon Tomos (V)
Meredydd Morris (G)
Len Jones (G)
Mark Jones (B)
Graham Land (D)
Eric B. (?)
Simon Tassano (?)
DISCOGRAFIA: Yn Dawel Hyd Nawr (compilação em LP, 1980), Dwed Y Gwyr (LP, 1981), Gorau Sgrech - Sgrechian Corwen (compilação em LP, 1982), Barod Am Roc (compilação em LP, 1984).

ROHAN


Operando em uma linha mais próxima do rock progressivo, mas com algumas tiradas épicas tipicamente Heavy Metal, o Rohan acaba encaixando no rótulo NWOBHM por ter lançado um single em 1984, adequando-se ao período básico do movimento. O vinil, contendo "Mil O Fastiau" e "Rasus T.T.", tem uma capa bastante genérica, e deve ter levado algum tempo até alguém se dar conta de que ali poderia estar uma banda de interesse para colecionadores da NWOBHM. Seja como for, o conjunto sumiu do mapa por muitos anos, e só em 1996 ressurge inesperadamente com um CD independente auto-intitulado (foto). Aparentemente, trata-se de material relativamente recente, embora a possibilidade de ser uma compilação com gravações de arquivo não possa ser plenamente descartada. Contendo seis longas músicas (a maioria com inspiração na obra literária de Tolkien), o material explora sem pudor várias influências de música folclórica da região, mas mantém o peso e a energia necessários para agradar fãs menos xiitas da NWOBHM. O CD é relativamente fácil de encontrar (com alguma procura, até sites da Internet o oferecem a um preço razoável) e acaba sendo uma alternativa bem mais viável do que o há muito esgotado single - mesmo porque contém uma regravação de "Mil o Fastiau", o que o dota de interesse ainda maior. Não há informações sobre o Rohan ainda estar na ativa, mas esperamos que esteja, perpetuando seu trabalho com honestidade e competência.
MÚSICOS:
Dace Evans (V)
Charlie Goodall (G)
Bev Jones (B)
Graham (La) Land (D)
DISCOGRAFIA: Mil O Fastiau (7'', 1984), Rohan (CD, 1996).

TROBWLL


Possivelmente a mais antiga banda de Gales a encaixar no rótulo NWOBHM, o Trobwll tinha como nome proeminente o vocalista / guitarrista Richard Morris - que mais tarde produziria o primeiro single do Crys e que se envolveria como músico e / ou produtor em inúmeros outros projetos musicais no decorrer da década, a maioria deles com pouca ou nenhuma conexão com NWOBHM. Morris era também dono de um estúdio chamado Stiwdio’r Bwthyn, onde trabalhou com conjuntos de certo nome em seu país natal, como o Ellifant. O único material do Trobwll conhecido de nós até o momento é um 7" single bastante raro, lançado pelo pequeno selo Buwch Hapus em 1979. Trata-se de uma única música ("Taith") que se espalha pelos dois lados do vinil, misturando influências de rock progressivo com alguns riffs mais pesados na linha do Hard / Heavy setentista. Poucos detalhes a respeito da história da banda são conhecidos até o momento, e é bem possível que o grupo pouco mais fosse do que um projeto de estúdio de Richard Morris, sem maiores aspirações comerciais e montado exclusivamente para essa gravação. Provavelmente a ligação do Trobwll com a NWOBHM seja casual e não-intencional - mas a essa altura isso pouco importa, uma vez que o nome do grupo já está ligado de modo inabalável ao movimento, e colecionadores mais obcecados venderão a mãe para porem suas mãos em uma cópia autêntica deste item.
MÚSICOS:
Richard Morris (V,G)
Steve Lewis (G)
Mark Jones (B)
Mel Turner (D)
DISCOGRAFIA: Taith (Rhan I, Rhan II) (7", 1979).

TRYDAN


Uma das mais obscuras bandas do período em questão, o Trydan era uma formação um tanto incomum, contando com três vocalistas e com seis membros, três deles homens e três mulheres. Quase nada se sabe sobre a história do conjunto (que, a julgar pelos quatro sobrenomes "Jones" na formação, era algum tipo de negócio em família), e seu único lançamento conhecido hoje em dia é um EP de três faixas, lançado pela Sain Records em 1980. "Mods a Rocers", faixa que dá título ao material, é tida como a mais "metal" das canções, enquanto as outras duas ("Di-waith, Di-‘fynedd" e "Mr. Urdd") teriam um nível de qualidade bem inferior, sendo o vinil em si um material restrito aos mais fanáticos consumidores de material da época em questão. Curiosamente, um outro Trydan surgiu recentemente na mesma região, com um som voltado para conjuntos atuais como o Creed e o The Darkness. No entanto, o Trydan de hoje é formado por garotos na faixa dos 15 anos, então não os confunda com seus (há muito finados) homônimos da NWOBHM.
MÚSICOS:
Meic Jones (V,G)
Linda Williams (V)
Sharon Jones (V)
Carol Jones (G)
Dafydd Elis (B)
Garym Jones (D)
DISCOGRAFIA: Mods A Rocers (7", 1980).

WENFFLAM

Infelizmente, não há muito o que informar sobre essa quase desconhecida banda, cujo único registro catalogado até hoje é um 7" single lançado pela esotérica gravadora Tryfan em 1986, apresentando "Deigryn Du" e "Mynadd Byw" como lado B. Na verdade, o ano de lançamento é um pouco além do que a maioria dos interessados considera NWOBHM, mas julguei interessante incluir o grupo aqui porque, além de ser certamente uma banda de Heavy Metal (o logo do grupo na capa do single não deixa dúvidas), existe uma razoável possibilidade de lançamentos anteriores do Wenfflam surgirem em determinado ponto no futuro. Seja como for, o item é desconhecido de quase todo mundo e não é visto um novo exemplar há um bom tempo, o que indica que a prensagem do mesmo deve ter sido minúscula. Vale como curiosidade histórica, creio eu.
MÚSICOS:
Desconhecidos até o momento
DISCOGRAFIA: Deigryn Du (7", 1986).

Y DIAWLED

Eis um conjunto que os mais perseverantes (obcecados?) colecionadores da NWOBHM têm em grande estima, e seus lançamentos são creditados como relevantes contribuições ao cenário metálico da época. A mais antiga gravação conhecida dessa banda oriunda de Crymych data de 1982, e aparece em uma raríssima compilação em EP, lançada pela Fflach Records sobre o nome "Gyda Chymorth C.A.C.". A faixa em questão chama-se "Shwt Mae Siapus?", e já naqueles dias o conjunto se mostrava um dos mais "metálicos" de sua região, com um som pesado e energético que se encaixava com perfeição na estética do período. No ano seguinte, a Fflach decide dar ao novato conjunto a chance de lançar seu próprio 7" single, e logo o vinil contendo "S.O.S." e "Llinos Yn Y Lleder Du" chegava às lojas da região. A produção ficou a cargo de Richard Morris, o mesmo que gravou com o Crys e centenas de outros grupos e ainda achou tempo para seu projeto Trobwll (ver nota acima). A música em si é de boa qualidade, lembrando nomes da NWOBHM como Wolf e Savage e mostrando-se desde então o Y Diawled como o mais "Metal" dos conjuntos que cantavam em galês na época. O material mais conhecido do Y Diawled, no entanto, seria lançado ainda em 1983 pela Sain Records e contaria com a qualificada participação da cantora Rhiannon Tomos (ver nota acima), substituindo o vocalista original Kevin Davies. Aliás, a união de forças entre a vocalista e o conjunto não parece ter sido muito natural, e eu não me surpreenderia se essa colaboração não tivesse sido idéia da própria gravadora, juntando a talentosa cantora com uma banda superior à que a acompanhava normalmente com o intuito de criar uma espécie de super-grupo (para os padrões locais, ao menos). Seja como for, trata-se de um single de alta qualidade, com duas músicas pesadas e muito bem arranjadas (a excelente "Noson Y Blaidd" e "Dewch Gyda Ni"), e não tenho dúvidas de que poderia ter alcançado uma repercussão bem maior se tivesse contado com uma boa distribuição nacional – talvez letras em inglês também tivessem ajudado, de qualquer modo. O single chegou a receber uma resenha na revista "Kerrang" (para muitos a bíblia da NWOBHM), mas a mesma acabou sendo um tanto injusta ao ligar o Y Diawled a conjuntos folk do País de Gales – e, acredite-me, apenas um eventual preconceito com a língua galesa justifica essa opinião, pois o material é puro NWOBHM de ponta a ponta. De qualquer modo, logo a vocalista Rhiannon Tomos desligou-se do grupo e partiu para uma carreira solo como cantora folk, e é crível que esse desfalque, somado à falta de maiores perspectivas fora da diminuta cena local, tenha sido o fim do competente e promissor conjunto. Mas, de qualquer modo, restaram esses escassos lançamentos em vinil como legado de sua existência, e os perseverantes colecionadores da NWOBHM hão de preservar essas preciosidades pelos anos que virão.
MÚSICOS:
Kevin Davies (V) - - - > Rhiannon Tomos (em "Noson Y Blaidd")
Aled Davies (G)
Geraint Williams (G)
Carwyn Davies (B)
Paul Philips (D)
DISCOGRAFIA: Gyda Chymorth C.A.C. (compilação em EP, 1982), S.O.S. (7’’, 1983), Noson Y Blaidd (7", 1983).

Além dos trabalhos acima, listamos a seguir uma série de itens que, de um modo ou de outro, acabaram associados à cena da NWOBHM. Alguns são tão obscuros que não se pode afirmar com certeza no que consiste sua música, outros foram por algum motivo tidos como NWOBHM quando na verdade pouco ou nada tinham a ver com o estilo. Como já dito algumas vezes no decorrer do artigo, esperamos que o tempo esclareça algumas destas dúvidas – muito embora uma maior cooperação e honestidade entre os que possuem / procuram essas obscuridades em vinil já fosse uma enorme ajuda. Na verdade, é comum termos informações desencontradas concernentes a essas bandas, lançadas ora por vendedores sequiosos de lucro que pouco se importam com uma descrição acurada dos itens que vendem, ora por colecionadores que querem supervalorizar suas coleções particulares (em uma atitude "eu tenho, você não tem" não menos do que ridícula) e acabam falando o que não devem. Como a maioria das pessoas nunca terá acesso a essas raridades e é forçada (como eu) a reproduzir relatos de segunda mão, é muito fácil deixar-se levar pelo entusiasmo e reproduzir inverdades como se fossem fatos historicamente comprovados. Não me considero isento de tais falhas, e admito a possibilidade de estar errado sobre algumas colocações – mas procurei checar ao máximo o caráter "metálico" das bandas citadas, e quando não as pude ouvir busquei confrontar o máximo de relatos possível na tentativa de encontrar um meio-termo. Assim sendo, eis as bandas que, por algum motivo, não me senti levado a afirmar acima de dúvida serem NWOBHM:

CRATOR: Esse sim é obscuro. Referências muito vagas têm sido feitas a um EP que teria sido lançado por esse conjunto em 1979, e que seria uma verdadeira pérola não-descoberta da NWOBHM. Lançado por uma tal Recordiau Lloer, O EP conteria as faixas "Gelin Yr Awyr", "Blas Da" e "Fy Mreuddwyd I". Tudo muito bonito, mas poderemos chamar o Crator de NWOBHM? O ano de lançamento bate com o usualmente aceito, e até faria do Crator um dos pioneiros de sua região, mas sem qualquer referência ao som fica difícil dar esses méritos ao conjunto. Ficamos na espera de novos dados, embora com uma esperança especial nesse caso.

ERYR WEN – É conhecimento público que o conjunto participou junto com o Y Diawled e mais dois outros grupos (Malcolm Neon e Ficer, os quais sabidamente não têm qualquer ligação sonora com a NWOBHM) da coletânea em EP Gyda Chymorth C.A.C., em 1982. Recentemente, localizou-se também dois 7" singles, um de 1983 contendo "Siop Dillad Bala" como lado A, e outro de 1985 que destaca "Genhedlaeth Goll". Embora muitos considerem o Eryr Wen um autêntico conjunto da NWOBHM, citações à utilização de trompetes e à influências pop põem em dúvida tal certeza, sendo perfeitamente possível que o conjunto tenha uma sonoridade mais próxima da música mod ou mesmo do pop rock. O tempo dirá, de qualquer modo.

HELYNT – Uma descoberta recente (embora ainda um tanto nebulosa) é uma coletânea em 7" de 1985 chamada "Popdri". Aparentemente um item extremamente escasso, o citado vinil apresenta quatro (na época) jovens bandas locais, a maioria delas voltadas para o pop. Porém, a se crer em alguns relatos, o último grupo da citada compilação, chamado Helynt, seria um bastante qualificado representante da NWOBHM, com sua " Deud Y Gwyr" sendo o ponto de interesse para entusiastas do período. Olhando a foto da banda na capa da compilação, eles não parecem muito com o que poderíamos esperar de uma banda de Heavy Metal – mas, como imagem não é tudo, é mais prudente esperar por novos dados antes de qualificá-la ou não como um legítimo representante da NWOBHM.

MAFFIA MR. HUWS – Eis um caso típico de confusão de estilos. A história do conjunto é conhecida até com certos detalhes: o grupo surge no final dos anos 70, gravando um single pela Fflach ("Gitar Yn Y To" / "Reggae Racs") e participando da coletânea "Sesiwn Sosban", ao lado de grupos como Ellifant e Derec Brown A’r Racaracwir. Ambos os lançamentos ocorrem em 1982. Em 1983, é lançado um LP chamado "Yr Orchr Arall". Com a saída de Hefin Huws (G / V, que acaba montando um conjunto chamado Llwybr Cyhoeddus e posteriormente se envolve com o razoavelmente bem sucedido grupo punk Anhrefn) e Les Morrison (V), o Maffia Mr. Huws foi forçado a reinventar-se, adotando o nome Maffia e lançando em 1985 um 7" single pela Sain com "Nid Diwedd Y Gan" e "Newyddion Heddiw" como lado B. Nesta gravação, Alan Edwards (que pode ser ou não o ex-baixista do grupo NWOBHM Panza Division) aparece como tecladista. O mesmo Edwards, lamentavelmente, morreria em 1987 vítima de um acidente automobilístico, o que pode ter acelerado o fim do conjunto. De qualquer modo, o grupo tem sido constantemente descrito como NWOBHM em vários lugares, inclusive constando como item nos sites nwobhm.com e metalmania.net, ambos conceituadas fontes sobre NWOBHM na Internet. No entanto, várias citações espalhadas por sites sobre a cena musical galesa me fizeram pôr em dúvida essa certeza, e me levaram a suspeitar que o Maffia Mr. Huws não fosse exatamente uma banda de Heavy Metal. Há pouco tempo atrás, finalmente localizei algumas gravações em mp3 do que seria um LP do Maffia chamado "Da Nim Yn O'th Gem Fach Di" (do qual, confesso, nunca tinha ouvido falar antes), e apesar de alguns números mais pesados como "Cigfran" e o medley ao vivo de "Dant Y Llew / Hysbysebion", a banda soa muito mais como um pop rock à Men At Work do que qualquer outra coisa, isso sem contar as numerosas influências de reggae (!). Talvez a capa do primeiro single (que mostra alguns jovens cabeludos com jaquetas de couro e uma guitarra Flying V) tenha induzido algumas pessoas ao erro, e o senso comum foi perpetuando o equívoco, em uma prova cabal de que as aparências enganam. Talvez alguns de vocês ouçam a banda e a achem 100% NWOBHM, vá saber... Curiosidade: a banda voltou à ativa para um show único em 2000, e existem várias referências a um outro show do Maffia Mr. Huws ocorrido no Faenol Festival em um ano tão recente quanto 2004. Será que a banda de algum modo voltará à ativa? Mais desdobramentos em breve.

MWG – O 7" single desta banda, contendo "Pesda ‘86" e "Darn O’r Haul" é creditado como NWOBHM pelo site rockdetector.com, mas pessoalmente não estou tão certo de que se trate realmente de algo ligado ao estilo. Os rapazes na capa (foto) não se parecem com típicos músicos de Metal, e não consegui encontrar qualquer outra referência à sonoridade do grupo em lugar algum – o que não deveria ser tão difícil, uma vez que o single foi lançado pela consideravelmente abrangente Sain Records no não tão remoto ano de 1986. Pouco se sabe sobre o grupo, a não ser que é oriundo da cidade de Bethesda e continha em suas fileiras o batalhador Huw Smith, o mesmo do Maffia Mr. Huws e do Llwybr Cyhoeddus, entre outros. De qualquer modo, não é o caso de dizer que há um equívoco evidente sobre o grupo, mas me parece interessante termos mais subsídios antes de incluirmos definitivamente o Mwg entre as bandas galesas da NWOBHM.

SHWN – Baseados na aparição da banda na coletânea "Barod Am Roc" em 1984, ao lado de grupos como o Crys e Rhiannon Tomos A’r Band, alguns não hesitam em listar o Shwn como um grupo raríssimo e de alto interesse para colecionadores da NWOBHM. Na verdade, o conjunto em questão atuou durante a segunda metade dos anos 70 com um estilo meio boogie bem típico da época em questão, de modo que não se trata exatamente de um material fundamental para fãs de Angel Witch ou Iron Maiden, ao mesmo tempo que perde o interesse temporal para colecionadores obcecados. O trabalho mais conhecido do grupo é o LP "Ar Garlam", lançado pela Sain em 1977.

Y TRWYNAU COCH – O citado conjunto chegou a ser oferecido por vendedores de discos raros como NWOBHM, mas uma rápida pesquisa comprova sem maiores dificuldades que o Y Trwynau Coch foi na verdade um grupo punk / mod de razoável sucesso local. Sua discografia é razoavelmente extensa, contendo pelo menos seis itens lançados entre 1978 e 1983, mas como se trata de um caso evidente de "gato por lebre" nem vou me dar o trabalho de listar exaustivamente os itens lançados pela banda, uma vez que o interessado não precisará de mais do que uma breve pesquisa em um site de buscas para encontrar o que procura.

Por enquanto é isso. Evidentemente estamos abertos a qualquer informação que nos ajude a melhorar essa página – então, se você souber de alguma coisa que não sabemos sobre essas bandas (ou sobre outras porventura esquecidas aqui), ficaremos extremamente agradecidos com sua ajuda. Qualquer contato pode ser efetuado via e-mail: vieira.igor@gmail.com .

Agradecimentos especiais a Malc McMillan e sua "NWOBHM Encyclopedia", Boris (Corwin) Bessarabov, aos sites The NWOBHM Online Encyclopedia e Rockdetector (links ao lado) e aos vários amigos anônimos que me forneceram mp3 e fotos muitíssimo úteis na concretização dessa pesquisa. Muito obrigado a todos.