Monday, January 01, 2007, posted by MetalRorschach at 5:59 PM
Como sabemos, um número imenso de bandas surgiu durante os três ou quatro anos tidos pela maioria dos interessados como o período clássico da NWOBHM - e, considerando-se a quantidade delas, não surpreende que a grande maioria delas tenha simplesmente ficado pelo caminho, sem lançar mais do que singles ou no máximo EPs independentes. Motivos são vários: algumas perderam músicos importantes em momentos decisivos, outras simplesmente não eram tão boas, algumas tomaram decisões erradas e existem também as que foram, simplesmente, injustiçadas. Nesse seleto grupo, eu sem dúvida incluiria o Mendes Prey. O grupo de Castleford, Yorkshire foi, simplesmente, uma das bandas mais talentosas de toda a NWOBHM, e certamente seria hoje idolatrada por multidões se tivesse recebido a chance de gravar um LP no auge de sua criatividade. De qualquer modo, alguns itens foram lançados, e hoje o Mendes Prey é tranquilamente uma das bandas mais queridas pelos entusiastas e colecionadores do Movimento, com uma história fascinante que nos dedicaremos a descrever abaixo.

Os primórdios do Mendes Prey de certo modo remontam à metade dos anos 70, quando os músicos que mais tarde constituiriam a banda tocavam em um sem-número de conjuntos amadores da área. De qualquer modo, podemos dizer que por volta de 1979 surgiu finalmente o núcleo do Mendes Prey, formado pelo vocalista Jih Seymour (foto), pelos guitarristas Steve Holt e Phil Lawn e pelo baterista Martin Brough. Todos já tinham, digamos assim, as marcas da estrada: Seymour, por exemplo, cantava em bandas da região desde 1974 e Holt alegava ter tocado em nada menos do que 13 grupos locais antes de se juntar ao Mendes Prey.

Entre 1979 e 1980, vários baixistas tocaram na banda, a maioria deles ficando muito pouco tempo. Depois de muitos candidatos, finalmente o posto de baixista foi ocupado por Tony Boulton, que anteriormente vinha tocando com o Vardis. Com essa formação, o grupo entrou no Woodlands Studio em janeiro de 1981 para registrar sua primeira demo. Foram gravadas as músicas "Lone Survivor", "Take Me 'Cross the Water", "Drifting", "Losin' Man" e "Don't Shine". O material logo conseguiu repercussão bastante positiva, ao ponto dos Bayley Bros. (conhecidos DJs de Rock da época) colocarem "Drifting" no primeiro lugar da parada que selecionaram para a edição de junho da revista "Sounds" - "Take Me 'Cross the Water" chegou ao número 9 na mesma seleção. Durante algum tempo, foi fortemente cogitada a possibilidade de lançar esse material em um EP independente, mas o grupo acabou optando por aguardar um pouco mais antes de expor seu trabalho para as grandes massas.

Nesse período, Phil Lawn optou por retirar-se do Mendes Prey e da carreira musical, sendo temporariamente substituído por Richard Emsley. Essa formação foi entrevistada na edição de novembro da revista Kerrang, mas acabou não durando muito, com Emsley saindo para a chegada de Mark Sutcliffe. Com vários shows acontecendo (incluindo bem-sucedidas apresentações abrindo para o Diamond Head), sessões de gravação foram feitas no primeiro semestre de 1982, e delas foi selecionado o material que entraria no primeiro e clássico lançamento em vinil da banda.

Finalmente disponibilizado no final do ano, o 7" single independente continha a sensacional "On To the Borderline" e a não menos empolgante "Running For You" como lado B, e logo se tornou um item avidamente perseguido pelos headbangers britânicos. Ouvindo as músicas, é fácil entender os motivos: operando numa linha mais Hard Rock, com fortes influências de Thin Lizzy e UFO, as composições são energéticas e certeiras, e a voz marcante de Jih Seymour pode ser colocada sem exageros entre as mais pessoais e competentes de toda a NWOBHM. Uma estréia excepcional, que compreensivelmente despertou grande atenção de todos os lados.

Ainda nesse ano, outra ótima composição do quinteto ("What the Hell Is Going On") foi incluída pela Heavy Metal Records na segunda edição de sua compilação Heavy Metal Heroes, conseguindo destacar-se positivamente mesmo com a concorrência de nomes fortes como Persian Risk, Witchfinder General, Jess Cox (ex-vocalista do Tygers of Pan Tang) e Shiva. No início de 1983, o quinteto (Seymour, Holt, Boulton, Brough e Sutcliffe) fez sua estréia no Marquee em Londres, abrindo shows para Saracen e Chinatown. Gravações de um desses shows ainda resistem e, apesar da qualidade sofrível de gravação, é fácil perceber que o grupo detonava em cima de um palco, mandando versões extremamente fortes e coesas de suas mais significativas composições, para delírio do público. Quem está mais familiarizado com a situação meio bairrista do cenário da época (no qual bandas de uma cidade eram geralmente bem recebidas, enquanto grupos vindos de outra costumavam ter recepções bem menos calorosas) fica ainda mais admirado com o sucesso do Mendes Prey como banda de abertura, e parecia óbvio àquela altura que alguma grande gravadora acabaria assinando com o promissor conjunto.

Enquanto aguardavam uma proposta concreta de alguma gravadora, Jih Seymour e cia. empilhavam sucessos. Um deles ocorreu quando a marca de jeans Levi's escolheu "What the Hell Is Going On" como tema musical para algumas propagandas de rádio, e como resultado o Mendes Prey acabou assinando um contrato de patrocínio com a empresa. Em troca da utilização da música nos 'spots' comerciais, a Levi's forneceu vários de seus produtos ao quinteto, e colaborou na organização de uma bem sucedida tour, com o Mendes Prey atuando pela primeira vez como 'headliners' (a abertura desses shows ficando a cargo do Dagaband). Um desses shows foi gravado em vídeo pela BBC, e três canções completas do grupo ("Red Alert", "Running For You" e "On To the Borderline") foram exibidas no programa "Bubbling Under" para todo o norte da Inglaterra. Aparentemente, gravações dessa apresentação ainda existem, mas ninguém ainda afirmou acima de dúvidas possuir esse vídeo, de modo que ficamos na dúvida por enquanto.

Nesse período, o grupo foi tentado pela idéia de utilizar teclados, e Steve Allen assumiu esse papel por um breve período, participando de alguns shows e colaborando em algumas composições. No entanto, a experiência não fluiu tão bem como esperado, e Allen acabou saindo do grupo em seguida. Um golpe mais duro viria no segundo semestre de 1983, quando Steve Holt resolveu também deixar a banda, alegando estar interessado em outros projetos. Ao invés de substituí-lo, o Mendes Prey preferiu se manter como um quarteto, e Seymour, Boulton, Brough e Sutcliffe resolveram diminuir a rotina de shows, concentrando-se na composição e gravação de material para o tão desejado LP de estréia.

Como vimos, o Mendes Prey era um fenômeno em ascensão, e chega a ser inacreditável que nenhuma gravadora tenha feito uma proposta séria de contrato a essa altura. O conjunto gravou duas demos no decorrer de 1984, registrando mais de uma dezena de sons ao todo, e juntando esse material ao que já havia sido gravado entre 1982 e 1983 poderia ter lançado um LP capaz de fazer do Mendes Prey uma das grandes bandas do Metal britânico. No entanto, apesar de algumas sondagens, nenhuma proposta de contrato chegou ao grupo, e esse inexplicável desprezo acabou aos poucos minando a resistência do dedicado e batalhador conjunto.

Em 1985, a NWOBHM já começava a perder força, e o futuro parecia pouco animador para o Mendes Prey. Com as coisas um tanto quietas dentro da banda, Jih Seymour arrisca-se nos lados da produção, e atua como co-produtor de uma demo do conjunto Sherwood, que mais tarde acabaria sendo lançada também como um EP independente. Depois de meses de pouca atividade, surge um convite vindo de uma gravadora sintomaticamente batizada LiL Records, e o Mendes Prey acaba participando da coletânea "Parkside Steelworks", ao lado de um número considerável de bandas da região - a maioria delas de baixa qualidade, para sermos honestos. O Mendes Prey optou por utilizar duas gravações feitas ainda em 1983, e "Red Alert" e "Cry For the World" tornaram-se facilmente os grandes destaques de um álbum não mais do que mediano. Apesar da pequena tiragem do LP, o ressurgimento em vinil de Seymour e cia. chamou alguma atenção, e um grupo de empresários musicais resolveu investir pesado no conjunto, com o objetivo de gravar o single que finalmente faria do Mendes Prey o grande grupo que sempre teve potencial para ser. Infelizmente, ao invés de ser o passo decisivo rumo ao sucesso, essa parceria acabou sendo o começo do fim para a banda.

Sob pressão de seus 'managers', o quarteto adotou um visual mais pop, com cabelos cortados e roupas coloridas (como se pode ver na foto ao lado), e após certa insistência acabou concordando em gravar uma versão de "Wonderland", uma sinceramente já não muito boa composição do Demon. Foi essa gravação que finalmente surgiu no início de 1986 como lado A do segundo single da banda, com a composição própria "Can You Believe It" como lado B. Ambas as composições, de qualquer modo, haviam recebido um 'banho de loja' durante a mixagem, e o resultado ficou muito mais próximo do pop rock do que do Hard / Heavy que sempre caracterizou o Mendes Prey. Resultado: mesmo sendo lançado em dois formatos (7" e 12", com o último contendo uma vrs. mais extensa de "Wonderland"), o single foi um fracasso de vendas, que não só falhou em chamar a atenção de um novo público como desapontou boa parte dos antigos fãs, que preferiram não investir seu dinheiro nas 'experimentações' de seus antigos heróis.

Diante desse fracasso, não havia mesmo muita alternativa para a banda. Jih Seymour, depois de mais de dez anos de rock e tendo lutado por cerca de sete anos para fazer do Mendes Prey um grupo bem sucedido, optou por abandonar a vida de músico e se mudou para a Austrália ao lado da futura esposa, nascida no país em questão. Sem a presença do talentoso e dedicado vocalista, os membros restantes não se sentiram propensos a continuar a luta, e antes do final de 1986 o Mendes Prey não existia mais. Os músicos abandonaram a carreira musical, e durante muito tempo o antigo conjunto foi deixado em quase completo esquecimento. No final dos anos 90, porém, uma onda de renovado interesse pela NWOBHM surgiu com a proximidade dos 20 anos do movimento, e logo exemplares do outrora esquecido material do Mendes Prey passaram a ser vendidos por altos valores no mercado de colecionadores de vinil. Nessa época, falou-se bastante na confecção de um website oficial da banda, e boatos davam como certo o lançamento de um CD com material nunca lançado oficialmente. No entanto, a situação esfriou sem que nem uma coisa nem outra virasse realidade. Recentemente, no entanto, Jih Seymour (atualmente atuando como coordenador de programação de uma emissora australiana de rádio) adquiriu os direitos do domínio www.mendesprey.com , e uma versão inicial do site já está no ar, prometendo para breve uma quantidade considerável de material sobre a história do velho grupo britânico. Contatos já foram feitos no sentido de viabilizar um CD com material da banda, e se houver justiça no mundo em breve teremos a chance de adquirir material oficial dessa grande banda da NWOBHM, que merecia ter ido muito mais longe do que de fato conseguiu. Aguardaremos desdobramentos com enorme expectativa e muita esperança.

Agradecimentos a Malc McMillan e sua "The NWOBHM Encyclopedia", ao extinto site Dunsy's Cupboard of Metal e ao próprio Jih Seymour, que gentilmente forneceu boa parte das informações contidas nessa biografia. Muito obrigado, de verdade.

MÚSICOS
Jih Seymour (V)
Steve Holt (G) - até 1983
Phil Lawn (G) ---> Richard Emsley ---> Mark Sutcliffe
Tony Boulton (B)
Martin Brough (D)
Steve Allen (K) - 1983

DISCOGRAFIA
On To the Borderline (7'' single, 1982), Heavy Metal Heroes Volume 2 (part. em coletânea, 1982), Parkside Steelworks (part. em coletânea, 1985), Wonderland (7'' e 12'' single, 1986).

SITE OFICIAL: http://www.mendesprey.com
 
2 Comments:


At 12:33 PM, Anonymous Anonymous

Meus Sinceros Parabéns.

 

At 3:15 AM, Blogger bruno araujo

Ótimo post,meus parabéns!